Departamento de Cirurgia e Anatomia Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo
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Histórico

O Departamento de Cirurgia da FMRP-USP foi fundado em fevereiro de 1954 pelo Prof. Ruy Escorel Ferreira-Santos (discípulo do Prof. Edmundo Vasconcellos – HCFM-USP) a convite do então Diretor e Fundador da FMRP, Professor Zeferino Vaz. Para a organização departamental o Prof. Ferreira-Santos tomou como base a estrutura de unidades correspondentes que visitou com recursos de uma bolsa da Fundação Rockfeller, tais como: Columbia Presbiterian Medical Center e Cornell University Medical Center (New York), Massachussets General Hospital e Peter Bent Brigham Hospital (ambos associados à Harvard Medical School, Boston), Temple University e University of Pennsylvania (Philadelphia), University of Tulane (New Orleans), Georgetown University (Washington), University of Illinois e University of Chicago.

A primeira equipe de assistentes, convidados pelo Prof. Ferreira-Santos, foi constituída pelos docentes seguintes: Dr. Luiz Heraldo Câmara Lopes (Cirurgião Geral e Torácico do IAPC de São Paulo); Dr. Sylvio de Vergueiro Forjaz (Neurocirurgião do HC de São Paulo, com estágios em Paris, Estocolmo e Edinburgo); Dr. Célio Fontão Carril e Dr. Pier Luigi Castelfranchi (ex-residentes da 2ª Clínica Cirúrgica do HC de São Paulo, chefiada pelo Prof. Edmundo Vasconcellos); Dr. Manoel dos Santos Gabarra (Cirurgião Geral do Hospital São Francisco de Ribeirão Preto); e, Dr. João Ferreira Machado, (Anestesista da Santa Casa de Ribeirão Preto). Um segundo grupo de docentes foi contratado em 1956: Dr Albert Amin Sader e Dr. Cláudio Tácito Macedo de Escobar (também ex-residentes do Serviço de Clínica Cirúrgica do HC de São Paulo, chefiado pelo Prof. E. Vasconcellos) e o Dr. Rubens Lizandro Nicoletti, interessado em Anestesiologia. Em 1957, foi contratado o Dr. Luiz de Goes Mascarenhas para assumir a Disciplina de Endoscopia Peroral e a Otorrinolaringologia. Foi, também naquele ano, que o Dr. Aureo José Ciconelli foi admitido como médico residente do departamento, por recomendação do Prof. Fernando Paulino, e que posteriormente foi contratado como docente.

Durante os anos iniciais, embora a estrutura curricular fosse dividida em disciplinas, os cirurgiões seguiam os princípios da formação geral, não especializada. Após 4 a 5 anos, julgou-se necessária a especialização dos demais assistentes além da caracterização inicial do Dr. Forjaz (Neurocirurgia), Dr. Nicoletti (Anestesia), Dr. Mascarenhas (Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Endoscopia Peroral) e Dr. Câmara Lopes (Cirurgia do Esôfago). As opções exercidas foram: Dr. Carril – Proctologia, Dr. Castelfranchi – Gastroenterologia Cirúrgica, Dr. Escobar – Cirurgia Vascular e da Tireóide, Dr. Sader – Cirurgia Torácica, e Dr. Ciconelli – Urologia. Essa especialização exigiu o estágio dos assistentes em Centros de renome, tanto no país quanto no exterior: o Dr. Castelfranchi foi para Lyon (Serviço do Prof. Pierre Mallet-Guy), o Dr. Sader para São Francisco (Serviço do Prof. Frank Gerbode), o Dr. Carril para Londres (Serviço do Prof. Ian Todd), e o Dr. Ciconelli para Campinas (Serviço do Prof. Roberto Rocha Brito) e posteriormente para Boston (Harvard Medical School). Foi esse grupo, liderado pelo Prof. Ferreira-Santos, quem construiu o alicerce do Departamento de Cirurgia que se desenvolveu posteriormente graças à dedicação e esforço destes, assim como de outros docentes contratados posteriormente.

Para atender as necessidades assistenciais e para seguir as diretrizes do currículo da FMRP consoante com as diretrizes da política nacional de saúde de formar médicos generalistas, foram necessárias modificações tanto no ensino da graduação como da residência médica. Na verdade, tanto a Faculdade quanto o Departamento procuraram adequar e adaptar o ensino às novas exigências do novo modelo de assistência à saúde baseada na prevenção, hierarquização e descentralização. O departamento tem procurado seguir uma linha de ensino de graduação em cirurgia mais geral e tem se empenhado em estruturar a participação no atendimento assistencial em nível secundário, com vistas a ampliar o ensino e a formação, neste segmento cirúrgico, a alunos e médicos residentes. Assim, recentemente o internato do final do curso médico foi re-estruturado de forma a proporcionar a aquisição de habilidades mais voltadas para os níveis primário e secundário. Na busca de outras fontes de ensino extramuros, o departamento participa do ensino no Núcleo de Medicina da Família no Centro de Saúde Escola e organizou estágios para o ensino de graduação e para a atenção primária à população no Centro de Saúde Escola e em hospitais de nível secundário. Além disso, introduziu um Curso de Cirurgia de Urgência, o ATLS (Advanced Trauma Life Suporte), um Curso de Terapia Intensiva, o FCCS (Fundamental Critical Care Support) no ensino de graduação. Dessa forma, houve uma distribuição mais equilibrada de aprendizado de habilidades psicomotoras voltadas para os atendimentos primário e secundário. As várias disciplinas que integram o departamento têm participado em todos os níveis do planejamento e da execução dos projetos de ensino, oferecendo também cursos optativos e estágios como complementação ao curso regular.
Atualmente os docentes do Departamento de Cirurgia e Anatomia participam do ensino de graduação da FMRP ministrando aulas em diversas disciplinas próprias ou em módulos de ensino de disciplinas interdepartamentais, oferecidas aos alunos de graduação dos cursos de Ciências Médicas, Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Nutrição e Metabolismo e Informática Biomédica.
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Quanto à pesquisa, deve-se assinalar que as investigações iniciais estavam voltadas para as substituições arteriais por próteses plásticas e por homo-enxertos conservados, cirurgia cardíaca por hipotermia, com circulação cruzada e com circulação extracorpórea. Deve-se destacar, que, na época da fundação, a linha de pesquisa dominante na FMRP estava centrada na Doença de Chagas devido seus altos índices de incidência na região. No Departamento de Cirurgia, o interesse maior estava voltado para a resolução dos problemas associados à ectasia visceral, tais como o megaesôfago e o megacolo. A esofagectomia subtotal com reconstrução do trânsito com estômago, levado ao pescoço por via retro-esternal ou pelo mediastino posterior foi proposta e executada pioneiramente neste departamento, constituiu um dos primeiros marcos. Estas técnicas difundiram-se por todo o país e posteriormente para outros países.

Desde a sua fundação, a missão do Departamento de Cirurgia é promover o ensino de clínica cirúrgica básica ao nível de graduação em Medicina, formação profissional ao nível de pós-graduação senso estrito e senso lato (Residência Médica, Especialização, etc.), desenvolver pesquisa no campo da clínica cirúrgica e prestar atendimento atualizado, eficaz e humano a pacientes portadores de doenças passíveis de tratamento cirúrgico e a pacientes criticamente enfermos.

Devido às suas peculiaridades de um Departamento de Cirurgia, as atividades de extensão são fundamentais para o seu desenvolvimento, pois a capacitação, o aprimoramento e a atualização e a aquisição de novas tecnologias pelos docentes depende muito da aplicação dos seus conhecimentos no tratamento cirúrgico dos pacientes. Outro aspecto importante a ser considerado é que boa parte das publicações e da transmissão de conhecimentos efetuadas pelos docentes do Departamento tem como base a experiência adquirida no tratamento de pacientes que apresentam doenças de tratamento cirúrgico. Assim, o departamento caracteriza-se por apresentar grande volume de prestação de serviços à comunidade na forma de tratamento cirúrgico dos pacientes que o necessitam. No princípio contando apenas com seus docentes, e posteriormente, com o auxílio de médicos assistentes do próprio Hospital, o departamento sempre procurou oferecer tratamento de ponta nas mais variadas especialidades cirúrgicas. Isto naturalmente exige a educação continuada desses profissionais através de estágios e da participação em congressos e eventos científicos, sobretudo no exterior. Desde o início, dadas às características do Hospital, a vocação departamental sempre esteve voltada para a solução de casos de complexidade maior. As mudanças ocorridas nas relações dos hospitais universitários com o Sistema único de Saúde (SUS) exigiram um engajamento efetivo destes hospitais no atendimento à população de acordo com as normas deste sistema e para isso estes hospitais tiveram que se adaptar à nova realidade de ser exclusivamente a referência terciária do sistema, deixando de atender pacientes de menor complexidade.

Com a conclusão do Hospital das Clínicas Campus, em 1978, houve a transferência das instalações departamentais para essa nova Unidade, sendo que o antigo Hospital passou a funcionar como Unidade de Emergência que possui também uma Unidade de Queimados sob a coordenação da Disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora. Após a reforma das instalações do Departamento de Cirurgia e Anatomia em 2004, as suas dependências no Hospital das Clínicas Campus, em homenagem ao seu fundador, passaram a ser denominadas “Clínica Cirúrgica Prof. Ruy Ferreira-Santos”.

Em 1970, uma reforma Departamental baseada na exigência de uma massa crítica mínima de docentes levou à anexação da Ortopedia e Traumatologia ao Departamento de Cirurgia. Em 2000, com nova reestruturação Departamental exigida pela USP lastreada em argumento semelhante, as disciplinas de Anestesiologia, de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial e Cabeça e Pescoço de Ortopedia do antigo Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia passaram a fazer parte de outros departamentos. As outras disciplinas do Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia juntaram-se ao Setor de Anatomia antes pertencente ao extinto Departamento de Morfologia, passando a constituir o atual Departamento de Cirurgia e Anatomia, que hoje conta com 31 docentes que se dedicam às atividades de Docência, Pesquisa e Assistência à Comunidade. O novo departamento ficou então constituído por dois setores: Setor de Anatomia, orientado para o ensino básico e o Setor de Cirurgia, organizado em disciplinas (Coloproctologia, Cirurgia de Urgência, Cirurgia Geral e Torácica, Cirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica e Reparadora, Cirurgia Torácica e Cardiovascular, Cirurgia Vascular e Angiologia, Gastrocirurgia, Neurocirurgia, Terapia Intensiva e Urologia) de orientação dirigida para a parte aplicada.